De novo prosseguiu no seu discurso e disse:
Quem me dera ser como fui nos meses antigos, Como nos dias em que Deus me guardava
Quando a sua lâmpada luzia sobre a minha cabeça
Como fui nos dias do meu vigor, Quando a amizade de Deus estava sobre a minha tenda
Quando o Todo-poderoso estava comigo, E meus filhos me rodeavam
Quando meus passos eram banhados em manteiga, E quando a pedra derramava para mim rios de azeite.
Quando eu saía para ir à porta da cidade, E mandava preparar-me um assento na praça.
Viam-me os mancebos e escondiam-se, E os velhos levantavam-se e punham-se em pé
Os príncipes cessavam de falar, E punham a mão sobre a sua boca
A voz dos nobres emudecia, E a sua língua apegava-se ao seu paladar.
Pois o ouvido que me ouvia, chamava-me bem-aventurado
Porque eu livrava ao pobre que gritava, E ao órfão que não tinha quem o socorresse.
A bênção do que estava a perecer vinha sobre mim, E eu fazia que o coração da viúva cantasse de alegria.
Vestia-me da retidão, e ela se vestia de mim
Fazia-me olhos para o cego, E pés para o coxo.
Eu era o pai dos necessitados, E examinava a causa dos desconhecidos.
Eu quebrava os queixos do iníquo, E arrancava-lhe a presa dentre os dentes.
Então dizia eu: Morrerei no meu ninho, Multiplicarei os meus dias como a areia.
A minha raiz se estenderá até as águas, E o orvalho ficará a noite toda sobre os meus ramos
A minha glória se renovará em mim, E o meu arco será revigorado na minha mão.
A mim me ouviam e esperavam, E guardavam silêncio para receberem o meu conselho.
Depois de falar eu, nada replicavam
Esperavam-me como a chuva, E abriam a sua boca como as chuvas tardias.
Eu me sorria para eles quando não tinham confiança
Eu lhes escolhia o caminho, e me sentava como chefe, E estava como um rei entre as tropas, Como quem consola os aflitos.