Holofernes, marechal do exército assírio, foi avisado de que os israelitas se dispunham à resistência e que haviam bloqueado as passagens dos montes.
Explodiu então a sua cólera, e, cheio de furor, convocou os príncipes de Moab e os generais dos amonitas e disse-lhes:
Dizei-me quem é esse povo que ocupa as montanhas; quais as suas cidades, a sua força, o seu número; qual o poder e o efetivo de seu exército, quem é o seu chefe,
e por que motivo foi ele o único dentre todos os povos do oriente que nos desprezou, recusando-se a sair ao nosso encontro para receber-nos pacificamente.
Aquior, chefe dos amonitas, respondeu-lhe: Meu senhor, se te dignas ouvir-me, dir-te-ei a verdade acerca desse povo que habita nos montes, e nenhuma mentira sairá de minha boca.
Esse povo é da raça dos caldeus;
habitaram primeiramente na Mesopotâmia, porque recusavam seguir os deuses de seus pais que estavam na Caldéia.
Abandonaram os ritos de seus ancestrais que honravam múltiplas divindades,
e passaram a adorar o Deus único do céu, o qual lhes ordenou que saíssem daquele país e fossem estabelecer-se na terra de Canaã. Depois disso sobreveio a toda a terra uma grande fome, e desceram ao Egito onde, durante quatrocentos anos, multiplicaram-se de tal forma que se tornaram uma multidão inumerável.
Oprimidos pelo rei do Egito, e obrigados a trabalhar na fabricação de tijolos e de argamassa para a construção de suas cidades, clamaram ao seu Senhor, e este feriu toda a terra do Egito com vários flagelos.
A praga cessou, quando os egípcios os expulsaram de sua terra; mas quiseram retomá-los para sujeitá-los de novo à escravidão.
Eles fugiram. O Deus do céu abriu-lhes o mar de tal modo que as águas tornaram-se de cada lado sólidas como um muro, e eles atravessaram a pé enxuto pelo fundo do mar.
Entretanto, vindo em sua perseguição o inumerável exército dos egípcios, foi de tal maneira envolvido pelas águas que não escapou um sequer que pudesse contar à posteridade o acontecimento.
Ao sair do mar Vermelho, ocuparam os desertos do monte Sinai, onde nunca homem algum pôde habitar, nem um ser humano se fixar.
Ali, tornaram-se-lhes doces e potáveis as fontes amargas, e por espaço de quarenta anos receberam um alimento vindo do céu.
Por toda parte onde entraram sem arco e sem flecha, sem escudos e sem espada, Deus combateu por eles e venceu.
Ninguém jamais pôde insultar esse povo, a não ser quando ele se afastou do culto do Senhor, seu Deus.
Mas sempre que, ao lado de seu Deus, eles adoravam um outro, logo eram entregues à pilhagem, à espada e à vergonha.
E todas as vezes que se arrependiam de ter abandonado o culto do seu Deus, o Deus do céu dava-lhes força para resistir.
Finalmente, derrotaram os reis cananeus, jebuseus, fereseus, hiteus, heveus, amorreus e todos os valentes de Hesebon, e tomaram posse de suas terras e de suas cidades.
Enquanto não pecavam na presença de seu Deus, eram bem sucedidos, porque o seu Deus odeia a iniqüidade.
Há alguns anos, com efeito, tendo-se afastado da via em que Deus lhes ordenara caminhar, foram derrotados nos combates contra várias nações, e muitos dentre eles levados para o cativeiro.
Mas converteram-se de novo ao Senhor, seu Deus, e depois dessa dispersão acham-se reunidos desde há pouco: retomaram a posse de suas montanhas e de Jerusalém onde está seu santuário.
Agora, pois, meu senhor, informa-te se esse povo cometeu alguma iniqüidade na presença de seu Deus, e então subamos e o ataquemos, porque o seu Deus os entregará nas tuas mãos, e ficarão sujeitos ao teu poder.
Mas se esse povo não está manchado de nenhuma ofensa para com o seu Deus, não o poderemos enfrentar, porque o seu Deus o defenderá e seremos o opróbrio de toda a terra.
Calando-se Aquior, todos os grandes de Holofernes se indignaram e queriam matá-lo.
E diziam entre si: Quem é esse homem que pretende que os israelitas possam resistir ao rei Nabucodonosor e ao seu exército, sendo eles homens sem armas, sem força e ignorantes da estratégia?
Para mostrarmos a Aquior que ele nos engana, vamos às montanhas, e, quando tivermos capturado seus príncipes, passá-lo-emos com eles ao fio da espada.
É preciso que toda a nação saiba que Nabucodonosor é o deus da terra, e que não há outro fora dele.